Entre 500 propostas, Matakiterani aprova dois projetos em prêmio nacional

A instituição foi premiada nas categorias Mestre de Cultura Popular e Grupo Informal no Prêmio Culturas Populares

Uma iniciativa do Ministério da Cultura, o Prêmio Culturas Populares chegou a quinta edição em 2017. Ao todo foram 500 propostas premiadas em todo o Brasil. A Matakiterani Associação Cultural aprovou dois projetos e vai receber R$ 20 mil para o fortalecimento e continuidade das ações desenvolvidas, divididos igualmente e repassados diretamente ao premiado.

O edital tinha quatro categorias: mestre ou mestra de cultura popular, herdeiros de mestre ou mestra in memorian, grupo formal e grupo informal. O recomendador de alma Sebastião Rodrigues da Cruz, o Seu Tatão, foi premiado na primeira categoria. Já o Grupo de Recomendadores de Alma de Campo Belo do Sul se inscreveu na de grupo informal.

O prêmio homenageou Leandro Gomes de Barros, paraibano considerado o rei dos poetas populares do seu tempo.

Os premiados

Seu Tatão tem 84 anos e é morador de São José do Cerrito. Ele é capelão, uma espécie de liderança laica do ritual da Recomendação das Almas. Tatão vivencia a tradição desde os 14 anos, quando começou a recomendar almas junto de seu tio. Todos os anos, no período da quaresma, reúne o grupo de Recomendadores de Alma de São José do Cerrito para o ritual.

O Grupo de Recomendadores de Alma de Campo Belo do Sul, a exemplo de seu Tatão, todos os anos realiza esse rito. Liderados pelo capelão Moisés de Oliveira, o Laranjeira, percorrem o interior e área urbana de Campo Belo do Sul. Eles seguem a tradição secular aprendida com São João Maria.

Sobre a recomendação das almas

A recomendação ou recomenda de almas pode ser definida como um evento de caráter popular que ocorre nas noites e madrugadas das quartas e sextas-feiras da quaresma.  A prática é realizada com mais afinco na Semana Santa.

O representante institucional da Matakiterani, Gilson Maximo de Oliveira, conta que, liderados por um capelão, o grupo de recomendadores tem a obrigação de percorrer número ímpar de casas e locais sagrados, como grutas, capelas, pouso de São João Maria e cemitérios. “Eles seguem invocando as almas perdidas no mundo e as encaminham para o descanso eterno”.

As pessoas e as comunidades que praticam a recomendação de almas se caracterizam por viverem isoladas do meio urbano, de forma significativa o suficiente à perpetuação da sua prática.

Hoje, no entanto, os mecanismos de reconhecimento sobre a importância e o valor desta devoção vão além dessas comunidades. “Essas práticas são fundamentais para a sua continuidade. Elas possuem uma dimensão regional e até nacional compreendidas como um patrimônio da cultura brasileira que precisa ser conhecido em diferentes locais e contextos sociais”.

O trabalho da Matakiterani

A Matakiterani acompanha e pesquisa esse ritual desde 2002, e tem sido convocada por diversas lideranças laicas para auxiliar em atividades como o registro em vídeo dos anciãos, visitas nas escolas e investigação de fragmentos dessa tradição.

Os projetos premiados buscam articular a rede existente e propiciar intercâmbio dos diferentes praticantes nas diversas localidades. “Trabalhamos para socializar saberes e experiências recuperando práticas e instrumentalizando aqueles que não as conhecem mas acabam realizando um esforço de manutenção dos costumes que veem como ameaçados pelos tempos atuais”, destaca Gilson.

Mais informações sobre os premiados podem ser encontradas no canal do Youtube:

 

 

Catarinas Comunicação

Foto: Acervo Matakiterani