Sacrários abertos
 
          Visitar e identificar as comunidades que realizam e já realizaram a prática religiosa popular da Recomendação das Almas no interior do Estado de Santa Catarina, em comunidades nas cidades: São José do Cerrito, Rio Rufino, Campo Belo do Sul, Fraiburgo e José Boiteux, e articular as lideranças dessa tradição, facilitando o reconhecimento da prática como bem da cultura imaterial, possibilitando a visibilidade em outros espaços para além dos tradicionais e ações de intercâmbio entre os participantes das diversas Recomenda de Alma do Estado de Santa Catarina através do 1º Encontro Estadual da Recomendação das Almas.
 
             A Recomendação ou Recomenda de Almas, pode ser definida como um evento marginal de caráter popular que acontece nas noites que por vezes adentrando as madrugadas das quartas e sextas-feiras da Coresma, ou Quaresma. Sua prática é realizada com mais afinco na Semana Santa, pois sua realização é quase obrigação. Uma de suas origens, segundo a tradição oral de seus participantes, foi deixada pelo Monge João Maria, como penitência para aliviar os pesos da vida e ajudar as almas necessitadas em seu descanso.
 
             Entrar em contato com a Recomendação das Almas é penetrar no universo mágico da religiosidade popular do interior de Santa Catarina, em especial da Região Serrana. Religiosidade esta que teima em se manter o mais próximo possível de sua crença e dos gestos que advém de sua fé. Ao cantar e soar a matraca os devotos nos levam ao mundo dos mortos, mas que se tornam vivos no imaginário de cada oração. O que era invisível se torna palpável e os sentidos se aguçam para que nada se perca. O simples transforma-se no complexo emaranhado de vozes destoantes e que diante do caos se harmonizam criando uma atmosfera de reverência ao sagrado. Santos protetores, Nossas Senhoras e “São” João Maria se tornam companheiros e dividem o mesmo espaço devocional, onde não existe o sagrado institucionalizado, mas sim um conjunto de forças emanadas dos devotos para aquilo que lhes é mais caro: a fé incondicional no sobrenatural.
 
 
 
 
Que Terreiro é Esse!
 
       Construção de um momento de encontro, itinerante e localizado em cada espaço de prática cultural de manifestações Religiosas de Matriz Africana e Indígena da Região Serrana do Estado de Santa Catarina, para qualificação e organização cultural dos praticantes em mobilização com os Pontos de Cultura da região e de todo estado, gerando como produto final, meios virtuais e práticas presenciais de propagação dessa cultura, através da Organização dos praticantes e dos espaços de devoção das manifestações Religiosas de Matriz Africana e Indígena da Região Serrana do Estado de Santa Catarina, articulando politicamente esse segmento cultural, criando demandas para a formulação de políticas culturais do poder público municipal e estadual.
 
       Por muito tempo a Região de Lages, e Santa Catarina como um todo, foi tradicionalmente apontada pela historiografia como região onde a religiosidade de matriz africana e indígena teria sido caracterizada como “peculiar” e “insignificante”, e cujo inexpressivo contingente teria facilitado uma relação atípica ao convivendo em harmonia com catolicismo institucional e outras práticas religiosas.
 
       Diversos estudos demonstram o número de praticantes e a força destas práticas na cidade Lages, ela propagou seus rituais e também construiu uma história rica em cultura e possibilidades. Sua expressão está nos seus fazedores e nos seus centros, que estão longe de serem apenas simples vítimas das atrocidades e preconceitos, esta pratica cultural é resistência que fez de seus praticantes agentes de sua própria história.
 
       Conhecer os caminhos e as estratégias percorridas para a manutenção e reprodução dessa cultura é a possibilidade que este projeto apresenta na busca de melhor articular os grupos e reforçar os seus fazeres.